O que vem depois da gratidão?

Ser grato é reconhecer o que o outro faz. É olhar para o outro e admitir que ele existe e que de alguma forma tem participação em sua própria vida. É saber que o outro tem importância e relevância e não levantar questões quanto a isso. Ser grato é confessar sua própria relatividade.

A gratidão é um tema que está na moda: há muitos vídeos sobre isso. É bonito ser grato, como se a gratidão pudesse ser realizada apenas como uma conduta, um procedimento. Esquece-se que a gratidão é um sentimento profundo de autoconhecimento do próprio tamanho e a da generosidade que o outro realiza na sua direção.

Olhar o céu, acompanhar o pôr-do-sol, enxergar o outro. São exercícios diários que nos convidam a vivenciar a gratidão. As coisas mudam quando exercitamos a gratidão. Bom humor, saúde física e mental.

Olhar o quanto que nossos antepassados viveram para chegarmos aqui; quanta energia, esforço e dor desprenderam para que existíssemos. Olhar para trás e agradecer por isso é algo que revela o tamanho do potencial de vida que é alcançado por este sentimento.

Gratidão à mãe, por exemplo. A mãe representa o sucesso. O sucesso de ter vindo para a vida. É agradecer pela saúde, é honrar a vida, é cuidar do próprio corpo que foi bem cuidado e chegou até aqui.

O pai representa a autonomia, a capacidade de construir a vida a partir da própria experiência. É ser grato pela força do trabalho, das relações sociais, de enxergar o outro. É agradecer pela independência.

A gratidão pelo trabalho. A gratidão pela atividade que nos dá a possibilidade do sustento diário, da sublimação universal, do investimento e descarga de nossos desejos mais íntimos. Isso está em falta. As pessoas olham o trabalho como um mal, como uma escravidão e é comum vermos a sexta-feira sendo cultuada pela sua chegada. Com isso reduzimos a vida vivendo ansiosos pela sexta.

Ter gratidão é dar um passo dentro da gente na direção ao pai e a mãe.

O que se pode observar disso tudo é que quando a pessoa não está sendo grata é porque ela está em falta. Sim, ela tem um vazio na vida e tenta esconder isso não reconhecendo o que o outro tem e faz por ela. Ingratidão é não ter prazer no trabalho e compensar isso dizendo que o trabalho faz mal, que mata e que se pudesse não estaria ali. Ao contrário, a gratidão completa o ser.

A gratidão precisa ser sentida e vivida. Ela representa um estado permanente de resposta que a vida demanda. É um movimento de satisfação e responsabilização pela própria vida. Chega-se ao ponto de que até a falta cria uma ambiência favorável para que haja a reação necessária a fim de que que a vida seja tomada em suas próprias mãos, como resultado da gratidão.

Você é grato?

Então responda: como estão seus relacionamentos, sua saúde, seu trabalho e suas finanças? Como está sua relação com seus pais?

Se alguma coisa aí não está bem, talvez seja um sinal de você rever como está sua gratidão.

Pense nisso!

Filipe Freitas

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